conto

O TELETRANSPORTE

Era frequente, quando criança, dormir na sala e, como uma ficção científica, acordar subitamente no meu quarto.
O teletransporte era meu pai, que chegava do trabalho tardão da noite, me encontrava lá e me carregava nos braços até minha cama.
que, uma vez, ainda estava acordado e escutei meu pai chegando. Não pensei duas vezes: joguei-me no sofá para fingir estar dormindo. Foi aí que meu pai, que me carregava no escuro, se esticando comigo nos braços para alcançar o interruptor da luz, não viu a parede e bateu minha cabeça nela.
Nem doeu nada! O problema foi que, para manter todo o meu teatro já montado, fui forçado pela situação a fingir, improvisadamente, ter acordado com a batida na cabeça.
Meu pai, infelizmente, desativou o teletransporte, me deixou de pé pra certificar se estava tudo bem... já estava na frente do quarto... e, nesta noite, eu fui contrariado... andando até a cama com ele.
Hoje, quando chega esse tardão da noite, continuo fingindo que vou dormir para teletransportar. Mas quando fecho os olhos, não escuto mais ele chegando. Mas isso porque, pra mim, ele nunca foi embora.
 
Roderictus.