conto

A menina e o sabiá

Talvez a música mais antiga da minha memória (eu tinha uns três anos de idade) seja uma música que meu pai cantava pra mim sobre uma menina que chorava por um sabiá que tinha fugido para cantar num abacateiro.
Ele fugiu, mas sempre prometia voltar, a fim de consolar a menina que soluçava sem parar.
A música acaba na promessa do sabiá.
Lá no fundo, nunca acreditei na promessa dele, isso nunca me consolou. Eu tinha convicção que a menina ainda choraria muito por ele até esquecer, até secar.
Mas, depois, com o tempo, passei a compreender que o sabiá nasceu pra cantar no abacateiro e, apesar da promessa sem fim, seu canto, consequentemente, se eternizava na memória dela.
Ela jamais esqueceria do sabiá. E, pra ser, sincero, nem eu.
Ele nasceu pra cantar só pra ela e ela nasceu pra ouvir seu canto.
Seu choro era pra ele.
Seu canto era pra ela.
 
Roderictus.